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Mulheres e futebol

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Outro dia fui ver o jogo do meu time do coração. Domingo, dia de futebol. Fazia muito tempo que não ia, senti muita falta. Mas voltei pra um dos programas que mais gosto cheia de pensamentos novos e buscando um novo olhar.

Nesse tempo que fiquei longe de estádio, me aproximei do feminismo, por pura coincidência. Entrei naquele lugar que tanto gosto pensando como gosto de lá. Como tem homem junto num lugar só. Como as únicas mulheres que “aparecem” são as líderes de torcida (aquelas de mini-saia, segurando pompoms e fazendo coreografias).

Quando comecei a ir com frequência assistir jogos no estádio, ia acompanhada apenas de uma amiga. Só duas meninas. E pra quem tem medo, garanto que não tem nada demais. Depois comecei a ir com um amigo. Um dos poucos que não se importava em “me levar”. Homens costumam achar que levar mulher no estádio significa que terão que cuidar dela. Mas não precisam.

Aliás, apesar de nunca ter acontecido absolutamente nada comigo dentro de um estádio, muitas vezes me sentia mais segura com amigas do que com amigos. E não é no mínimo curioso que num estádio eu nunca tenha passado por nenhuma situação desrespeitosa, mas em um ônibus  já?

O que eu gosto mesmo de futebol é ver jogo no estádio. Nesse tempo que fiquei sem ir, perdi muito interesse e paciência pra acompanhar. Só acompanhava o “básico” (sabe os gols que passam no jornal? só isso e olhe lá). Mas quando assisto ao vivo, ali pertinho, quando ouço a torcida gritando, vibrando… acho lindo! Fico sonhando ali dentro. É quando sinto prazer de acompanhar campeonatos.

Estar no meio daquela multidão é incrível. Sentir o chão tremer, literalmente. O coração bate mais forte. O grito sai sem você nem perceber. É muita gente, é um mar de gente. Um mar de gente que canta junto a mesma música. Bate palma, pula, grita, tudo junto.

Nunca tive paciência para conversas “ganhei o jogo x”, “mas eu ganhei o jogo y”, “fomos campeões ano passado”, “e nós no ano retrasado”… acho que não leva a lugar nenhum. Claro que uma provocação, uma brincadeira, se torna irresistível. É uma competição, afinal. Só isso. Não além disso. Mas enfim, não é o que importa.

Falar de futebol eu gosto quando me acrescenta alguma coisa. E muito se engana quem acha que o esporte não tem nada de importante. Tem relação com a história de cada país, cada cidade. Tem a ver com política, com cultura.

A maior participação feminina é nas “musas do brasileirão”, o que é uma pena. Fora que me incomoda demais essa história de musa pra lá, musa pra cá. Como se mulher só servisse para ser bonita. É muito triste me deparar com matérias absurdas como essa aqui, por exemplo. Ou matérias que desvalorizam jogadoras por não serem “bonitas”.

Mas o que queria mesmo dizer é que é claro que alguém, independente de ser homem ou mulher, pode não gostar de futebol. Mas é triste ver mulheres se privando de algumas coisas por acreditar que seja “coisa de homem”. Tenho amigas que amam futebol e nunca foram ver jogo no estádio porque nenhum homem quis ir com ela. Acho isso tão triste. Os homens precisam parar de achar que mulheres são tão frágeis que não podem nem ver um jogo com elas sem dar trabalho pra eles.

Aposto que faria muito bem para algumas mulheres abrir mão desse medo. E para alguns homens abrir mão desse receio de ir junto com uma amiga/namorada/parceira assistir uma partida. Aposto que seria ótimo nos livrarmos de esteriótipos que nos impedem de fazer, pensar, usar algo por acreditar ser coisa “de menina” ou “de menino”.

E acharia lindo ver mulheres ocupando cada vez mais espaços antes só masculinos.

Natalia Mendes